Aos que creem em Deus, a melhor saída, independente de darmos o adeus, é entregamos à Deus.
(Texto sobre luto e dicas de como passar essa fase + depoimento de uma psicóloga)
Começamos com as famosas frases que os pacientes trazem, expressando o mais puro sentimento de dor no impotente momento da perda:
… A confusão após perceber o último ressonar de um suspiro, o fechar dos olhos para a vida, como dói.
… Olhar para uma pessoa que nunca mais se movimentará, como dói.
… Troca de casa sem nosso consentimento, não queremos te deixar aqui, só, como dói.
… É muito rápido, o caixão sobe e desce e acabou, te dou minha mãe e recebo o pó cinza. (cremação), como dói.
https://www.youtube.com/watch?v=YOJiYy1jgRE
Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
O que é o luto? É o processo de perda. Digo processo pois no luto vivemos várias fases:
Tristeza em diferentes intensidades, chegando à angústia da depressão.
Negação, dificuldade em acreditar que aquele corpo nunca mais terá vida, questionar ao universo o por quê desse fim.
Nostalgia, com memórias boas ou não sobre o ente querido que se foi.
Aceitação onde percebe que somos impotentes diante da morte, e usamos a espiritualidade para ativar nossas crenças sobre o acontecimento, trazendo uma visão mais confortável. Nessa fase também conseguimos fazer o ente perdido participar de acontecimentos de seu dia a dia, de maneira descontraída, ou pedindo ajuda dele para a tomada de decisões.
Os momentos de cada fase variam de pessoa para pessoa, assim como a intensidade e frequência. Tem gente que no ato da morte, consegue previdência tudo, faz o sepultamento de maneira bem controlada e vive um momento de anestesia sobre o acontecimento, com dores que vão e vem. Essa pessoa vai percebendo mesmo a dor da perda nos dias seguintes. Isso acontece pois nesse momento que ela descobre como serão seus dias nesse novo formato. Onde e como a pessoa vai fazer falta e vai ficando mais claro o que é nunca mais viver momentos com ela.
Para os que não conseguiram se despedir, vale fazer orações com essa “conversa”, vale escrever uma carta que traga esses pontos importantes. Vale abraçar alguma pessoa próxima da pessoa que morreu, abrindo seu coração para ela. Vale fazer algo em homenagem à ela, como uma caminhada visando serenidade. Vale também, você buscar o conforto em seu nome, buscando um “Ser Superior” (seja Deus, Alá, Iemanjá, Buda, etc), ou algo que se volte às suas crenças, evocando seu próprio fortalecimento interior, algo de bom para o ser que se foi, ou algo que te tranquilize.
Viver o luto é se tornar estagiário nessa nova vida real, onde não se tem a presença, o presente ou o futuro com o outro. É aprender numa escola que nunca se frequentou a sensação dessa ausência, com descobertas sobre o que dói mais, sobre o que ativa as memórias. Podemos entender que nesse novo cenário, você é obrigado a aprender a viver com essa pessoa apenas no tempo passado através de lembranças boas ou ruins.
https://www.youtube.com/watch?v=sWhy1VcvvgY
Não é sobre tudo que o seu dinheiro é capaz de comprar
E sim sobre cada momento sorriso a se compartilhar
Também não é sobre correr contra o tempo pra ter sempre mais
Porque quando menos se espera a vida já ficou pra trás
Segura teu filho no colo
Sorria e abrace teus pais enquanto estão aqui
Que a vida é trem-bala, parceiro
E a gente é só passageiro prestes a partir
Depoimento: Psicólogos também sofrem a dor da perda
3 anos, 3 meses e 3 dias.
Estamos falando de outubro de 2014 – descoberta de um tumor no intestino de minha irmão.
Ao terceiro dia de janeiro de 2019 – Dia que minha irmão faleceu
Hoje, 3 de fevereiro de 2019, completando-se 1 mês desse evento – LUTO.
Outubro de 2014, uma dor abdominal, pronto socorro e sala de cirurgia. De um dia para o outro surge um tumor no intestino que traz novos caminhos na vida da minha irmã. Da noite para o dia, o cenário do trabalho não existiu mais em seus dias de vida. Sua rotina variava entre cirurgias, consultas médicas, quimioterapias, medicações e eu e sua filha sempre coladas nela.
Surpreendia os médicos sempre:
“Você tem uma doença, mas você não adoeceu”, frase de sua oncologista, fria mas eficiente Dra Daniela Alves. Sim, não se abateu e aparentemente não mostrava o quão grande estava sendo sua luta, tanto que ao invés de ser cuidada e ajudada, você continuava a se doar para os outros, como sempre fez, mesmo fazendo esse tratamento tão agressivo. Sempre envolvida com o tratamento, acreditando, lutando. Me lembro de suas palavras quando a médica deu o diagnóstico que temíamos ouvir: Tumor no fígado, sem tratamento, só controle da doença. E você reagiu na hora: Doutora! Eu preciso fazer alguma coisa, quimioterapia, algum tratamento, eu tenho dois filhos para cuidar, eu quero viver, não posso ficar parada esperando a morte chegar.
“Duas horas da madrugada, duas paradas cardiorrespiratórias, 10 minutos “fora do ar”, entubada, 4 stents cardíacos, em sua primeira semana de quimioterapia. Nesse mesmo dia, ao meio dia lá estava ela, almoçando e falando que nós estávamos brincando que tudo aquilo havia acontecido com ela naquela madrugada. “Ah, é por isso que meu peito dói quando respiro?” Sim irmã, você teve infarto do miocárdio e os médicos se revezaram para fazerem a massagem cardíaca, deu cansaço neles, mas quando você voltou a respirar foi emocionante, a equipe médica aplaudindo e comemorando sua volta, sua vida.
Só as quimioterapias que não reagiam contra o tumor maligno e raro. Esse danado mostrava para os médicos novos caminhos que ele próprio traçava, caminhos esses desconhecidos pelos médicos mega especialistas, ainda que usando as mais modernas técnicas trazidas do exterior.
Dezembro de 2018 chegou, já existia um tumor no fígado, e esse órgão não permite mais sonhar por vida sem câncer, sim, não tinha mais tratamento. Ela já precisava de sonda para complementar sua alimentação que piorava a cada dia. Em paralelo a isso, a vida continuava. A tão esperada bodas de ouro dos nossos pais queridos. Médicos fizeram o laudo que permitia minha irmã viajar para a Bahia para participar dessa festa. Todos nós estávamos lá. Todos os 6 filhos com suas famílias. Em viagem, o estado físico de minha irmã piorou, já não conseguia se alimentar nem por sonda, dia 30/12/2018, a situação ficou insustentável e a ordem médica era de retorno imediato. “Doutor, nos dê mais um dia, dia 31 é bodas de meus pais, viemos aqui para isso”. Não, retorno imediato para prosseguir o tratamento com a equipe médica dela em SP. Tudo bem, é para seu bem irmã, vamos e assistimos por vídeo chamada. Foi o que aconteceu, participamos da festa à distância. A família toda nos fazendo participar, vídeo chamada, fotos e filmagens chegavam a todo momento. Meia noite do dia 31/12/2018 – no 15 andar de um hospital com uma vista linda, na região do Ibirapuera, e em meio aos fogos de réveillon, com seus sons indicando que um novo ano começava, veio a despedida dela, sem percebermos que era uma despedida. Ela pediu para segurar nossas mãos, olhando em nossos olhos, e fez um agradecimento muito pontual, em que ficou claro que existia muito amor ali, o reconhecimento de quanto ela era amada, o quanto lutamos com ela e por ela. Depois disso, não conversou mais, foi medicada com morfina e outras medicações que resulta em sedação/inconsciência do paciente (conduta médica questionável).
Lutas foram muitas. E quando no dia 1, a médica falou: Sua irmã está morrendo e nós acreditamos que ela não vai ter alta do hospital. Eu pensava comigo (essa médica não é a médica que acompanhou minha irmã, essa equipe de médicos de “tratamentos paliativos” não conhece o quão forte minha irmã é – Sim, eu, psicóloga, entrava na fase da negação. Não aceitava que minha irmã estivesse partindo)
03/01/19 veio o fato que mostrou que a médica estava certa. Minha irmã morreu. Minha irmã agora era estrelinha. Nunca mais tantas coisas, nunca mais…
Pega óbito daqui, contrata funerária dali, ir agendar velório, escolher sua roupa de partida, fazer reconhecimento do corpo.
Nesse momento, vêm as dores intensas, choros incontroláveis, vontade que tudo isso se passe logo, você fica anestesiado, parece viver um pesadelo, parece que esperamos o momento que alguém diga, pronto, a vida voltou ao normal, e esse momento não chega. Também vivíamos a expectativa para ter toda família por perto, que ainda chegavam de outro estado para o último adeus.
Um mês depois, o que posso falar da perda, comparando com tudo que oriento e estudei sobre o tema?
Que vivemos da tristeza à angústia, o que sentimos varia muito de intensidade, em vários momentos de nosso dia. Parecemos bipolares pois ao mesmo tempo que estamos sorrindo, um incentivo qualquer e inesperado produz incontroláveis lágrimas.
Se pensarmos no luto, sob a perspectiva da Elizabeth Kluber Ross (em seu livro “Sobre a morte e o morrer”), minha experiência mostra que as fases do luto que a autora escreve são reais. Existe sim a Negação, barganha, raiva, depressão e aceitação.
Os momentos de cada fase variam de pessoa por pessoa e também cada um vive suas particularidades diferentes, a pessoa não vai passar necessariamente por todas as fases de luto descritas.
Padre Marcelo diz: Saudade sim e tristeza não. Como se faz isso o tempo todo? Alguns momentos podem ser que sim, mas saibam que nos tornamos sem controle da dor da perda. Não sabemos como nem quando ela vai surgir. O passar dos dias não amenizam, ao menos não nesse momento que ainda somos estagiários nessa nova vida sem a pessoa. Podemos entender que as dores são menos frequentes, que já é possível conseguir voltar a ter alegrias no dia a dia. Sua rotina caminha como chuva de verão, às vezes acontece, às vezes só ameaça acontecer. E tudo bem, gradativamente a vida vai voltando ao seu normal e não precisamos acelerar esse percurso.
Podemos prever que alguns momentos serão mais difíceis, outros não. O carinho dos outros também ativam a dor. Amigos e familiares têm o costume de falar sobre o último momento com a pessoa que se foi, mandar fotos, querer saber como estão seus dias, fazer comparações da dor, querer te confortar com palavras. Vai ter momento que esse carinho vai te levar novamente à fragilidade, simplesmente por que você está num momento vulnerável e entender esse seu movimento, aceitar e se permitir é importante.
A organização mundial da saúde afirma que é natural existir depressão no período de luto por duas semanas. Se o estado de depressão persistir após duas semanas, já é indicado procurar tratamento com psiquiatra e psicólogo. Entenda que a pessoa pode estar em luto, viver momentos de tristeza, de angústia, mas não pode estar estado de depressão. O luto não deve te impedir de continuar as atividades diárias (ainda que com prejuízos). Se você não consegue retomar sua rotina depois de 2 semanas, a orientação é que se consulte com um psicólogo.
Quanto tempo demora o luto? Vamos entender que no primeiro ano, é normal relacionar cada data comemorativa com a última data que viveu com o ente querido que se foi (aniversário, dia dos pais, mães, natal, réveillon, etc). Cada lugar, roupa, situação que você fizer pela primeira vez, cada vitória ou dificuldade, vai ser natural, remeter à pessoa que se foi, e, se ela era com quem você compartilhava esses momentos, o desligamento a ela é mais difícil ainda. O comportamento que pode ajudar nessa fase, primeiramente é ter consciência de que você funciona assim, entenda que o hábito vai prosseguir, até que novos hábitos sejam propostos. A tendência à depressão prolongada se dá quando a pessoa não faz o movimento de mudar esses hábitos. Não é fácil, não, não é, mas, é possível, apesar do esforço que se empenha nessa ação, sim, é possível.
Como mudar os hábitos?
Se você dividia um momento de comemoração ou frustração com o ente que se foi, é por que, para você, é legal compartilhar esse momento importante. Assim sendo, escolher pessoas para dividir esse momento é o novo comportamento que você deve aprender. Não entenda como substituição, mas sim como um movimento seu que deve ser retomado.
Então, o segredo para seguir em frente é descobrir novas formas de vida nesse novo cenário. Entenda por vida como viver de forma serena e alegre.
Apesar de não ter vontade, não fique só e ocioso. Convoque parentes e amigos para te ajudar a fazer atividades do dia a dia, tomar chá à tarde, ir comer fora, ver um filme, se distrair e fazer o tempo passar, não necessariamente vai ficar alegre, mas para fazer o tempo passar com menos dor. Evite ficar só.
Outra coisa importante. Você pode sorrir mesmo com dor. Não sinta culpa por estar vivendo momentos alegres mesmo sem a pessoa por perto. Não se obrigue viver a dor 24 horas por dia. Você mesma conhece a sua dor, não se preocupe em mostrá-la para os outros.
Esse luto faz parte de minha história, Ednea Dias. Compartilho em redes sociais momentos pontuais de minha vida quando consigo unir duas coisas: Momento especial vivido + Momento que permito me expor. Esse é um deles, pois, saibam que a dor e alegria podem vir para todos.
Um abraço demorado, espero ter contribuído, hoje de forma mais especial, compartilhando minha experiência.
Ednea Dias – Psicóloga
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